Álbum "Vulnicura" de Björk completa 10 anos
Oitavo álbum da cantora fala sobre o fim de seu casamento
Por: Mateus Buzzo
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Foto: Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin |
Era setembro de 2013 quando a islandesa Björk e seu ex-marido, o artista plástico e diretor de filmes Matthew Barney, se divorciaram. A cantora ficou tão atônita com o evento que registrou o processo de perca, sofrimento e cura com o seu oitavo álbum (ou nono se considerarmos o primeiro álbum, que é um trabalho infantil, de 1977, quando ela tinha doze anos de idade, ou até mesmo o décimo se considerarmos a trilha sonora "Selmasongs"), "Vulnicura" (One Little Indian, 2015). O resultado foi o que os críticos chamaram de seu melhor trabalho em uma década.
"Vulnicura" é um trabalho audiovisual carregado de emoção, que muitas vezes chega a ser pesado. A começar pelo título, que significa 'cura para as feridas' em latim. As canções trazem arranjos de cordas e batidas eletrônicas que as deixam ainda mais tristes como é o caso da abertura "Stonemilker" e a enorme "Black Lake". Musicalmente, Björk foi crua e não se arriscou em sonoridades novas, ao contrário, utilizou o que já sabia e já havia feito como a música eletrônica que usou em "Homogenic" (One Little Indian, 1997) e a utilização e produção vocal que replica, de certa maneira, "Medúlla" (One Little Indian, 2004).
As três primeiras músicas, "Stonemilker", "Lionsong" e "History of Touches", preveem que Björk já esperava que o casamento iria acabar em breve. Aliás, no encarte do álbum é possível ver qual período do pré ou pós divórcio a cantora está falando sobre. A primeira música foi classificada como uma das músicas mais tristes do mundo. Você sente nos violinos e nas batidas eletrônicas que Björk tem ciência do que vai acontecer, mas está impotente por não conseguir salvar seu casamento.
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Foto: Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin |
"Stonemilker" foi considerada a música mais triste do álbum. Até chegar "Black Lake". Ela dá início ao sofrimento do pós-divórcio e com mais de 10 minutos, essa sim é a canção mais pesada e triste que o álbum carrega. A voz da islandesa está fraca, triste e os instrumentais são tão carregados de dor que o ouvinte fica triste pelo divórcio. Mais uma vez ouvimos os violinos e arranjos de cordas e a letra de lamentação e raiva faz você, uma pessoa que talvez não conheça a artista pessoalmente, se importar tanto com a vida dela. Quando se pensa que tudo está perdido, ela se supera com "Family" que acaba por ser o atestado de óbito de sua família já que para ela, o divórcio matou o sentido da palavra "família".
O álbum acaba abruptamente com "Quicksand", assim como acabou seu casamento. Com apenas 9 músicas e quase uma hora de duração, "Vulnicura" foi considerado um dos 50 melhores álbuns de 2015.
Produzido por Arca, nenhum single foi lançado e a turnê que promoveu o trabalho foi interrompida abruptamente pela própria Björk que disse ser muito triste ter que revisitar todo o divórcio e o processo de cura mais uma vez. Entretanto, outros métodos de promoção foram encontrados. No mesmo ano de 2015, o projeto foi relançado, mas apenas com o arranjo de cordas e um instrumento que Leonardo DaVinci batizou de viola organista - "Vulnicura Strings (The Acoustic Versions – Strings, Voice and Viola Organista Only)" (One Little Indian, 2015) omite "History of Touches" em todas as suas versões. Além disso, a exposição "Björk Digital" foi uma experiência em realidade virtual que trazia os bastidores da gravação de "Vulnicura" até o material pronto em 3D ou 360º. Cerca de 90 headsets de VR da Samsung foram instalados para a exibição que começou em 2016 na Austrália e deveria encerrar em maio de 2020 em Belo Horizonte, mas todo o planeta fechou as portas por conta da COVID-19 e o projeto encerrou com três dias de exposição no Rio de Janeiro.
Algumas pessoas sabem como é a dor e o processo de cura por conta de um divórcio. Umas se curam mais rápido e outras às vezes se rendem. Desde essa época, Björk nunca mais mostrou seu rosto nos palcos e apenas performa usando máscaras. Mas o processo de cura, como em qualquer perca, é essencial para o amadurecimento pessoal. Como ela mesma disse: "não tire minha dor, é minha chance de me curar".