Álbum foi originalmente lançado em 25 de outubro de 1994
Por: Mateus Buzzo
Foto: Patrick Demarchelier |
Durante os anos 80 e 90, Madonna não via concorrentes à sua altura. Sua influência e controvérsia artística reinavam absolutos. Após o polêmico show "Blonde Ambition", o público imaginou que ela não conseguiria vir com algo ainda mais polêmico. Mas ela veio com a trifecta perfeita, em 1992, quando lançou o explícito livro "Sex", o thriller erótico "Corpo em Evidência" e o álbum "Erotica". Como se não bastasse, para promover tudo isso a diva saiu em turnê pelo mundo: a "Girlie Show" viu protestos por parte de conservadores e religiosos, mas também ouviu palmas e cantos de liberdade dos mais afetados, e já cansados, pela repressão que tomava conta do mundo nos anos 80, seja ela política ou social.
É inegável que a figura de Madonna ficou marcada por controvérsias. Mas em 1994 ela lançaria o álbum "Bedtime Stories" (Maverick, 1994), literalmente traduzido como "histórias para ninar", que a mídia logo chamaria de "um álbum onde Madonna pede desculpas pelas polêmicas". Mas Madonna pede desculpas por polemizar? É claro que não!
Pela capa, porém, podemos notar que o tom agressivo do álbum seria, de fato, amenizado. Mesmo após o lançamento da música "Human Nature", onde ela deixa claro "não se arrepende", e a infame entrevista com David Letterman no começo de 1994 , que provou que Madonna é mestre em capturar a atenção do público e da mídia, "Bedtime Stories" é um disco com uma pegada mais soft-pop com nuances de R&B e hip-hop com letras sobre amor e auto-reflexão.
Foto: Patrick Demarchelier |
O trabalho abre com "Survival" em que a cantora diz ser uma sobrevivente de toda a controvérsia gerada anos anos anteriores. Em seguida temos "Secret" que trata sobre espiritualidade e empoderamento. Sim, Madonna já falava em empoderamento feminino bem antes dos anos 2000! "I'd Rather Be Your Lover" e "Don't Stop" são as músicas mais dançantes do álbum e convidam o ouvinte a dançar. "Inside of Me" é uma das várias homenagens de Madonna à sua falecida mãe, Madonna Louise. A letra é profunda e dedicada especialmente às memórias que a cantora tem de sua mãe, mas à época foi confundida como se tratasse de um amante passado. "Human Nature" foi considerada sucessora de "Express Yourself", de 1989, pois Madonna pede para o ouvinte não se reprimir, pois ela mesma não se arrepende de nada do que fez no passado. É a música-protesto do álbum. "Forbidden Love", como o nome sugere, retrata um amor proibido, mas para a diva, amor proibido é aquele que não se envolve em polêmicas assim como ela. "Love Tried to Welcome Me" viaja por rejeição, amor e solidão. "Sanctuary" é uma das b-side mais bem avaliadas entre os fãs da diva por sua sonoridade e por sua capacidade de alinhar amor, dependência emocional e morte. O final dessa música é emendado na música seguinte, a titular "Bedtime Story", que foi escrita pela islandesa Björk e tem pegada eletrônica, diferente do resto do álbum. Um hino à inconsciência e à oposição à razão, o videoclipe da música é bem curioso por envolver surrealismo ao altíssimo preço de $5 milhões, se tornando o vídeo-clipe mais caro do ano. "Take a Bow" encerra o álbum e retrato o falho romance com alguém que se preocupa mais com sua auto-imagem do que qualquer outra coisa.
Foto: Patrick Demarchelier |
Um álbum excelente, que nos mostra uma Madonna menos agressiva e menos preocupada com o mundo lá fora, teve sua divulgação interrompida devido as filmagens do filme "Evita", onde a diva interpretou a primeira-dama argentina Eva Perón recebendo elogios da imprensa, dos críticos e até do autor do musical original, o exigente Andrew Lloyd Webber. Uma pequena turnê para promover o produto chegou a ser planejada pela Warner Bros. com datas sendo confirmadas pelo periódico italiano Corriere Della Sera, mas Madonna recusou, pois estava 100% focada nas filmagens de "Evita".
Mesmo assim, o álbum foi bastante promovido por Madonna por meio de aparições em premiações e programas de auditório. Quatro singles foram lançados: "Secret", "Take a Bow", "Human Nature" e "Bedtime Story". Como esquecer daquela apresentação no BRIT Awards com Madonna usando um vestido branco de cetim e extensões capilares, sendo considerada uma de suas melhores performances até hoje?
O álbum foi bem recebido pela crítica, que o considerou como o começo da segunda fase da carreira de Madonna, pavimentando seus sucessores "Ray of Light" (Maverick, 1998) e "Music" (Maverick, 2000). Já os fãs da cantora consideram o trabalho como injustiçado, tanto é que 25 anos depois de seu lançamento, mais precisamente em abril de 2020, eles lançaram a hashtag #JusticeForBedtimeStories que alavancou as vendas e reproduções digitais do trabalho o levando ao topo do iTunes. Madonna os agradeceu por isso.
Com vasto legado que inspira fãs da cantora até hoje, 30 anos depois, "Bedtime Stories" é um trabalho sólido, como boa parte da discografia de Madonna, e nos mostra como a rainha do pop é, além de tudo, a rainha da reinvenção de sua própria persona.
Veja os clipes da era abaixo: