"MADAME X", DE MADONNA, FAZ CINCO ANOS. RELEMBRE.

Álbum marcou a temporada em que Madonna morou em Portugal
Por: Mateus Buzzo

Foto: Divulgação - Interscope Records



O ano era 2019. Madonna, a rainha do pop, começava a se apresentar e dar entrevistas com um tapa olho marcado com um X. Seus fãs já podiam esperar algo novo. O que ninguém esperava era um álbum que misturasse da música latina ao trap ao funk carioca. E se alguém duvidou que a rainha do pop pudesse falar português, esse alguém se enganou. 

Em 14 de junho de 2019, chegava às prateleiras e aos streamings o décimo-quarto álbum da rainha do pop, "Madame X" (Interscope, 2019). O álbum, que é considerado conceitual, retrata o tempo em que a diva morou com seus filhos em Lisboa, capital portuguesa, para que David Banda pudesse treinar futebol profissionalmente. Mas também trata de assuntos como sexismo, controle de armas e munições, liberdade de expressão, amor, racismo, solidão, sociopolítica, corrupção e direitos LGBT+, um tema que sempre tenta colocar em seus trabalhos como forma de agradecimento à sua base de fãs, feita majoritariamente por homens gays.

"Medellín" foi o primeiro single. Contou com a participação do colombiano Maluma e conta a história de um sonho da cantora de que estava na cidade de Medellín enquanto reflete sobre problemas do passado. Um pop latino, "Medellín" também incorpora o reggaeton e é majoritariamente cantada em inglês, mas há partes em espanhol, inclusive o refrão. 

Outro grande sucesso do álbum é "Faz Gostoso", parceria com a carioca Anitta. Um funk-carioca de ritmo carnavalesco, a canção explora temas como traição, sexualidade e baile funk. O refrão é todo em português, inclusive com Madonna cantando nosso idioma. É algo encantador e gratificante ouvir uma cantora americana dizendo que "eu não nego ele é safado e ainda por cima é carinhoso", mas para isso, ela disse que precisou que Anitta a ensinasse a língua portuguesa novamente, porque é muito diferente do português de Portugal, que era o que estava acostumada a ouvir e falar. Infelizmente a música não foi lançada como single e também não teve um videoclipe.

"Dark Ballet" também é uma música que nos coloca a pensar. Inspirada na execução da guerrilheira francesa Joana D'Arc em 1431, Madonna usou a rapper transexual Mykki Blanco para chamar atenção à perseguição dos transexuais e travestis, bem como à misoginia dentro das religiões. Leia nossa matéria sobre a música aqui

"God Control" é um hino contra o armamento. O clipe polêmico começa com um tiroteiro numa boate. Na canção, Madonna critica todos aqueles que pensam que têm o poder de Deus apenas por carregarem um revólver em seu punho e ainda faz um alerta: "nós precisamos acordar", como num canto de clamação para que as leis americanas sobre as armas mudem.  

"Batuka" é uma música afrobeat com a participação da Orquestra de Batucadeiras do Cabo Verde. Cantada em inglês e crioulo cabo-verdiano, a (excelente) música fala sobre enfrentar os medos e problemas e foi composta como um canto responsorial, onde a diva canta e as batucadeiras respondem.

"Killers Who Are Partying" e "Crazy" foram inspiradas no fado português. "Extreme Occident" traz sons do subcontinente indiano. Essas três canções também têm versos em língua portuguesa.

E finalmente, o álbum fecha com "I Rise", que começa com um discurso da ativista contra armamento X Gonzáles. A letra é voltada ao público gay, que deve se levantar (tradução livre do nome da música), mas não exclui as mulheres e o controle de armamentos. O videoclipe, inclusive, contém cenas do massacre na Stoneman Douglas High School, em Parkland na Flórida, onde um atirador de 19 anos matou 17 pessoas e feriu mais 17 num tiroteio causado por ele mesmo. O protesto veio pelo relaxamento da posse e porte de armas nos Estados Unidos durante o governo do ex-presidente Donald Trump e seu Partido Republicano, que também governa a Flórida. 

"Madame X" ainda nos trouxe a turnê de mesmo nome. A primeira vez em que Madonna se apresentava em teatros desde sua primeira turnê, "Virgin", de 1985. As apresentações também ficaram marcadas pela estrita proibição da artista do uso de celulares e quaisquer aparelhos que filmem dentro dos teatros onde se apresentou, além dos constantes atrasos e cancelamentos de 16 shows por problemas de saúde e os dois últimos shows em Paris devido às restrições impostas pela pandemia do COVID-19, mas também por seu profissionalismo e capacidade imensa de se reinventar, sair da sua zona de conforto com shows ultra tecnológicos de palcos grandiosos, para cenários às vezes 20 vezes menores do que costuma se apresentar sem perder a qualidade que só Madonna consegue entregar. 

Ao mesmo tempo que "Madame X" foi muito bem recebido pela crítica, boa parte dos fãs de Madonna não concordam e tendem a menosprezar ou até ignorar totalmente o trabalho, com alguns o comparando com "Hard Candy" (Warner Bros., 2008), que é o álbum menos bem avaliado pela maioria dos fãs da diva pop. 

"Madame X" faz bodas de ferro com letras e sonoridades atuais mostrando que mesmo após 3 décadas de carreira até então, Madonna soube se reinventar sem perder a essência de seu trabalho e as críticas do que o mundo vivia em 2019. Como disse Nicki Minaj: "só há uma rainha e é a Madonna"!

Foto: Divulgação - Interscope Records

Foto: Divulgação - Interscope Records

Foto: Divulgação - Interscope Records

Madonna em Nova Iorque / Foto: Guy Oseary

Foto: Divulgação - Interscope Records

Gravura em Lisboa retratando a cantora / Foto: Andy Blackledge